É comum assistirmos casais superarem crises de integridade moral, desafetos, problemas de saúde ou até mesmo uma situação de adultério, mas não conseguirem passar ilesos por crises financeiras.
Ao longo de mais de trinta anos de atendimento em meu consultório, muitas vezes já assisti cônjuges abandonarem anos de convívio conjugal porque o marido ficou desempregado, ou porque a esposa passou a trabalhar e a ganhar mais que o esposo. Há ainda casos em que um deles ascendeu na carreira profissional, passando a ganhar mais, e resolveu abandonar o outro por não precisar mais dele para seu sustento.
O dinheiro, na nossa sociedade, reflete um bem com o qual podemos viver de maneira honesta e confortável. Ele é necessário à nossa sobrevivência, já que com ele pagamos tratamentos de saúde, compramos remédios e comida, e podemos prover o nosso lar de móveis e utensílios necessários à vida prática. O dinheiro passa, sim, a ser problema, quando fazemos dele nosso alvo maior, quando o priorizamos e deixamos que ele ocupe o lugar de Deus.
Muitos pensam que não precisam de Deus porque podem comprar tudo o que querem com o dinheiro. Esquecem-se de que podemos comprar remédios, mas não a saúde. Podemos comprar diplomas, mas não sabedoria e inteligência. Podemos comprar uma boa cama, mas não um sono tranqüilo, que é dádiva de Deus aos homens. Outros entendem que não devem pensar em ganhar dinheiro honesto, e nem mesmo pedem a Deus melhores salários ou oportunidades de emprego, por acharem que o dinheiro é maldito. Na verdade, Deus não executa o trabalho humano: nós é que precisamos estudar, trabalhar, ganhar o nosso sustento com o nosso suor e planejar o bom uso das nossas finanças: Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos. Pois comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem. (Salmos 128.1,2).
No casamento, independente se os dois trabalham e de quem ganha mais, o dinheiro é sempre de ambos. É um bem do casal, a ser compartilhado com sabedoria, fruto da bênção divina para o lar, e que deve ser administrado em conjunto.
Quando só o marido trabalha, surgem algumas especificidades que precisam se avaliadas cuidadosamente. Há maridos que recebem o seu salário e que o entregam integralmente à esposa. Muitas vezes precisam de dinheiro para passagem ou para comprar algo, e pedem o equivalente ao que necessitam à mulher, que lhe entrega sem reservas. Neste caso, muitas vezes o casal falha por não planejar juntos os seus gastos – o marido prefere se omitir, não ir ao mercado, ou recusa-se a organizar junto com sua esposa o uso e a poupança dos recursos. Afinal, quando dois pensam juntos, sempre pensam melhor.
Muitas esposas, ao receberem o salário do marido integralmente, acabam também exercendo um domínio sobre o mesmo. Quando o marido é manso e a esposa é autoritária e controladora, muitas vezes este marido, que trabalha de sol a sol pelo sustento da família, precisa quase pedir de joelhos uma quantia para comprar uma peça de roupa ou comer algo diferente na rua! Mais uma vez, falta equilíbrio no planejamento dos gastos, pois o dinheiro não deve servir como instrumento de manipulação ou de sujeição entre os cônjuges. O casal precisa conversar, dialogar, planificar e ouvir o outro quanto às suas necessidades e aos seus desejos, seja o de comprar uma lingerie, um sorvete, uma casa própria ou um aparelho de som.
Por outro lado, há maridos que se acham dono do dinheiro, que não dizem às suas esposas quanto ganham ou quanto gastam para pagar as contas da casa, e que muitas vezes não deixam uma nota sequer nas mãos de suas esposas. Estes homens certamente receberam uma educação pautada no machismo, e assumem uma atitude egoísta e centralizadora, onde eles é que detêm o “poder” de determinar o que comprar, quando gastar e como gerir os recursos que eles entendem que são seus, e não das suas famílias.
Muitos esposos, por deterem o poder financeiro, usam suas esposas de forma que estas se sentem prostituídas, tirando delas todo afeto e diminuindo seu desejo sexual. Como terapeuta e conferencista, já ouvi de muitas mulheres o quanto se sentem diminuídas por muitas vezes terem que trocar favores sexuais com seus maridos para que eles possam dar-lhes dinheiro para que paguem mensalidades do colégio de seus filhos ou para que possam consertar um eletrodoméstico da casa que quebrou. Negociar afeto e sexo, usando dinheiro como mercadoria de troca, é caminhar na direção da infelicidade e do desastre conjugal!
Elaine Cruz
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