Série: A Esperança Tem Nome.
O Natal costuma ser lembrado pelas luzes, pelos cânticos e pelo anúncio de alegria, mas antes de tudo isso houve silêncio. Antes dos anjos cantarem em Belém, houve uma jovem em Nazaré que recebeu uma visita inesperada e respondeu com uma fé surpreendente. O Natal não começa em Belém. Começa no coração de uma jovem que disse “sim” a Deus.
Quando o anjo a saúda com: “Alegra-te, agraciada; o Senhor é contigo” (Lc 1.28), Maria não entende tudo o que aquilo significa. E justamente por isso ela nos ensina tanto. Deus não escolhe pessoas que têm todas as respostas; Ele escolhe pessoas que têm um coração disposto. Maria não era influente, não tinha uma posição social elevada, não possuía garantias humanas — mas tinha um espírito humilde e sensível à voz de Deus. Isso já é suficiente para transformar uma história inteira.
Ao ouvir que conceberia o Filho de Deus, ela é confrontada com riscos reais: a reprovação da comunidade, o possível rompimento com José, a perda de sua reputação e até o perigo físico decorrente das leis da época. Nada era simples. Ainda assim, sua resposta ecoa como uma das declarações mais profundas de fé registradas nas Escrituras: “Aqui está a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1.38). Maria não disse sim porque tudo estava claro. Disse sim porque confiava no caráter de Deus.
A fé dela nasce num período marcado por dores e silêncios: Israel vivia sob opressão romana, havia séculos sem profecias, e o povo aguardava ansiosamente uma intervenção divina. Foi nesse contexto de caos que Deus escolheu uma mulher para trazer ao mundo a esperança encarnada. Isso diz algo sobre o modo como o Senhor age: Ele não espera a vida estar “arrumada” para iniciar Seus milagres. Ele entra nos nossos dias difíceis e, justamente ali, planta promessas que parecem impossíveis.
E muitas mulheres vivem exatamente nesse lugar — carregando sonhos que parecem distantes, lidando com pressões familiares, sentindo o peso das expectativas sociais ou enfrentando desafios silenciosos. O Natal nos lembra que Deus vê cada uma dessas histórias. E, assim como fez com Maria, Ele ainda sussurra: “O Senhor é contigo.” A força que sustentou Maria não veio dela mesma; veio da presença de Deus que a acompanhava em cada passo incerto.
A espiritualidade de Maria não é triunfalista. Ela não tenta controlar o caminho, não exige garantias, não negocia condições. Em vez disso, ela se entrega. E essa entrega, embora custosa, gera vida. É assim também com a mulher cristã: quando abrimos mão do controle e permitimos que Deus conduza, percebemos que a fé madura não é a que entende tudo, mas a que obedece mesmo sem entender.
No fundo, a história de Maria nos lembra que Deus continua escolhendo mulheres comuns para realizar obras extraordinárias. Talvez este dezembro encontre você cansada, insegura ou cheia de perguntas. Talvez existam promessas adormecidas no seu coração ou medos que tentam sufocar sua esperança. O Natal, então, se torna um convite: levantar os olhos e lembrar que a esperança tem nome — e Ele caminha com você.
Que o seu “sim” a Deus, ainda que tímido, seja suficiente para que Ele faça nascer em você algo novo. Que a coragem de Maria te inspire. E que, neste Natal, você perceba que os milagres continuam acontecendo — muitas vezes, silenciosamente, dentro de nós.

Flavianne Vaz
*A CPAD não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos publicados nesta seção, por serem de inteira responsabilidade de sua(s) autora(s).