Perdoar é uma decisão difícil de ser tomada. Mas sabemos que precisamos perdoar pessoas com quem convivemos no trabalho ou na igreja, ou familiares mais próximos. Contudo, nas relações mais próximas, como entre pais e filhos, entre irmãos ou entre cônjuges, o perdão é absolutamente necessário para a manutenção do afeto.
Uma vida conjugal pode sobreviver e até ser satisfatória na ausência de filhos. O casamento sobrevive às dificuldades financeiras, às doenças, às atribuições e à rotina do cotidiano. Os cônjuges podem até sobreviver à devastação de um adultério. Entretanto, a amizade conjugal não sobrevive sem perdão.
Ao longo de um namoro os casais aprendem a desculpar-se. Desculpam o atraso do namorado, o mau humor da namorada e os entraves que as diferenças de pontos de vista provocam. No noivado, os noivos desculpam os parentes que se envolvem nos assuntos do casal, e desculpam-se mutuamente pelo nervosismo dos preparativos e pelo “frio na barriga” provocado pela proximidade da data do casamento.
Entretanto, as desculpas diferem do perdão. Quando alguém esbarra em você na rua e pede desculpas, você desculpa a pessoa de imediato. Embora haja aqueles que estão tão mal emocionalmente que não desculpam nem mesmo as coisas simples, como uma cotovelada dada sem querer ou uma brincadeira de mau gosto, em geral desculpamos as pessoas por atos desprovidos de maldade, cinismo ou malícia. As desculpas são mais instantâneas, até porque são atribuídas aos fatos e às pessoas que não nos ferem tão profundamente.
Já para as flechas que atingem a nossa alma, que fazem doer não só o coração, mas por vezes o corpo todo, desculpas não bastam. Para estas precisamos do perdão, que pode até ser proferido em palavras e revelado nas intenções instantaneamente: na primeira confissão e ao primeiro pedido de perdão o outro diz “eu te perdôo”. Contudo, mesmo que se arranque a flecha e se perdoe quem a atirou, há um processo a ser vivenciado até que o ferimento feche e cicatrize.
E é exatamente isto que muitos não entendem: os que perdoam ainda podem continuar, por meses a fio, a sentir a dor de uma traição ou de um desgosto provocado pelo ofensor. Afinal, fechar uma ferida leva tempo, às vezes anos, e ainda assim a cicatriz que ela deixa pode não doer mais, mas nos faz recordar do que se passou.
Por outro lado, muitas vezes o ofensor quase que exige que quem foi magoado continue a conviver com ele como se nada houvesse acontecido – como se um simples pedido de perdão fosse capaz de fechar uma ferida que foi aberta por anos, ou que é cutucada a cada semana pelo ofensor. Não cicatrizam rápido, por exemplo, as feridas provocadas por adultério, agressão física, filhos fora do casamento, xingamentos diários, rejeição e discussões que ferem a auto estima, entre outras.
Mesmo havendo a decisão de perdoar, é necessário esperar pelo tempo da alma humana para assimilar os fatos, entender os motivos, conviver com as lembranças e apagar a dor (não a memória dos fatos!).
Se você perdoou seu cônjuge lembre-se de se permitir desfrutar deste tempo. Você pode até pedir que Deus apague de vez a dor e faça com que você pule etapas – mas desde já lhe afirmo que a despeito dele poder fazer, ele não é obrigado a fazê-lo. Muitas vezes ele nos permite passar pelas provas do tempo, e neste caso é a nossa determinação em dizer “minha alma ainda dói, mas eu já perdoei” o fator que pode acelerar o processo de cicatrização.
Portanto, decida-se a superar, controle seus pensamentos e não alimente sentimentos de raiva ou de autocomiseração. Perdoe sempre, todos os dias, até não mais doer!
Elaine Cruz
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