Há no Brasil um dia chamado de Quarta-feira de Cinzas. A ideia é que este fosse um dia usado para as pessoas se arrependerem e se purificarem dos dias de folia do carnaval – o que é completamente incoerente, pois pecar de forma intencional e planejada, e achar que Deus vai perdoar os erros no dia do descanso da folia, é, no mínimo, falta de temor e respeito à santidade divina!
Dentro da perspectiva bíblica, as cinzas, como resultado de material queimado ou simplesmente como pó, retratam nossa finitude, como criaturas que voltam ao pó. Mas, juntamente ao chamado pano de saco, eram também usadas para demonstrar tristeza pelo pecado, arrependimento, solidariedade e compaixão no luto, e desespero perante o desastre de outros ou do pecado da nação.
Nas Escrituras, particularmente no Velho Testamento, quando alguém desejava mostrar seu coração arrependido, sentava-se em cinzas, colocava cinzas em cima de sua cabeça, e trocava suas vestes por pano de saco – que na verdade era o pelo de cabra preto, que era pesado e desconfortável de ser usado. Estes atos tornavam visível a contrição, o arrependimento, a vergonha e a sinceridade do sofrimento interno.
O pano de saco e as cinzas retratavam, portanto, os afetos internos, a consciência e a dor perante atos pessoais, nacionais ou de outros. Jacó demonstrou sua dor ao usar pano de saco quando pensou que seu filho, José, havia sido morto (Gênesis 37:34). Mordecai, quando sabe da declaração do rei Xerxes, que dava ao perverso Hamã autoridade para destruir os judeus, rasga suas roupas, coloca pano de saco e cinzas, e sai pela cidade chorando e clamando com amargo clamor – e os judeus o seguem: Em cada província onde chegou o decreto com a ordem do rei, houve grande pranto entre os judeus, com jejum, choro e lamento. Muitos se deitavam em pano de saco e em cinza. (Ester 4:3). Quando Jonas declarou ao povo de Nínive que Deus iria destruí-los, todos, inclusive o rei, clamaram por perdão, demonstrando arrependimento com jejum, usando pano de saco e colocando cinzas, inclusive, em seus animais (Jonas 3.5-8).
Sabemos que não era a vestimenta ou as cinzas que moviam com o Senhor, mas que estas refletiam o coração humilde, quebrantado perante Deus, e ansioso pela resposta divina. E Deus, na sua bondade, sempre respondia, livrava e consolava os seus, como bem enaltece o salmista: Mudaste o meu pranto em dança, a minha veste de lamento em veste de alegria, para que o meu coração cante louvores a ti e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te darei graças para sempre. (Salmo 30.11,12).
Para haver perdão e restauração, é fundamental o acerto, o arrependimento, a contrição. É preciso que o homem ou a nação, se volte com completa submissão e reverência a Deus, consciente de seus erros e pecados, e consciente da decisão de mudança de vida e de atitudes. Muitos estão brincando com Deus. Provocando Deus à ira, como se pudessem chantagear Deus, dobrando-o com estratagemas humanos e covardes. Abusam da Graça, usando a mesma para encobrir pecados antigos e pré planejados para o futuro – assim como os que usam seus dias e corpos para a folia e depois tiram um dia para as “cinzas”.
Brincar com Deus é brincar com salvação. E quem aposta na hipocrisia para com Deus vai colher amargura e dor – e nenhuma cinza vai poder alterar isto!
Elaine Cruz
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