Elaine Cruz

Elaine Cruz é psicóloga clínica e escolar, com especialização em Terapia Familiar, Dificuldades de Aprendizagem e Psicomotricidade. É mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense, professora universitária e possui vários trabalhos publicados e apresentados em congressos no Brasil e no exterior. Atua como terapeuta há mais de trinta anos e é conferencista internacional. É mestre em Teologia pelo Bethel Bible College (EUA) e membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil. Como escritora recebeu o 'Prêmio ABEC de Melhor Autora Nacional' e é autora dos livros “Sócios, Amigos e Amados”, “Amor e Disciplina para criar filhos felizes” e o mais recente, "Equilíbrio Emocional", todos títulos da CPAD.

Intimidade

Certa vez, há mais de vinte anos, eu preguei em um Congresso de mulheres em uma igreja no nordeste do Brasil. Após o culto terminar, já no momento do jantar com pastores e esposas, começamos a cantar cânticos antigos, que eu tanto amo. Foi então que ouvi um corinho diferente, e nunca mais esqueci o primeiro verso do mesmo, que dizia: Agora eu vou comer de colher com Jesus de Nazaré…

Do ponto de vista da etiqueta social, há muitos povos e tribos que comem com colheres, com hashi (palitinhos orientais) ou pegando a comida com as mãos para levá-la à boca. No caso dos povos ocidentais, para a maioria deles, comer utilizando uma colher só é aceitável quando tomamos uma sopa, um caldo ou sobremesas com espessura de mingau.

É claro que quando estamos em casa, na correria do cotidiano, ou simplesmente em um momento mais descontraído e solitário, todos nós eventualmente comemos de colher – é mais prático e rápido, pois misturamos os ingredientes e ressaltamos o sabor. Mas não fazemos isto em um jantar romântico, ou em uma reunião de negócios, e nem mesmo com pessoas estranhas à volta da mesa.

Se comer de colher é um ato reservado, comer de colher com alguém é algo muito mais complexo. Significa comer no mesmo prato, partilhando a comida de um só recipiente, permitindo que o outro misture ou desorganize nossa arrumação dos alimentos. Algumas pessoas, até mesmo ao comer o feijão com arroz, têm preferência do feijão por cima ou por baixo. Há os que espalham os diversos ingredientes no prato, de modo que a carne não encoste no feijão, por exemplo. E ainda existem pessoas que não se sentem confortáveis quando outras pessoas provam a comida que está no seu prato, mesmo que sejam cônjuges, pais ou filhos.

Eu não sou complicada neste aspecto. Se estou com pessoas conhecidas, não me importo se estas provem meu alimento, e tenho o hábito de sempre oferecer uma provinha aos que estão na mesa. Criei meus filhos da mesma forma e hoje, mesmo já casados, ainda mantemos o hábito de pedir pratos diferentes em restaurantes, e muitas vezes vamos rodando os pratos na mesa para que todos provem de tudo e digam o que acharam. Só é ruim quando o prato do outro é mais gostoso!

Certa vez, ao visitar uma amiga em Portugal, utilizamos garfos, mas comemos no mesmo prato em um restaurante. A filha dela, que estava conosco à mesa comentou: “Vocês são amigas mesmo, pois eu não consigo comer assim com outras pessoas a não ser com meus filhos.” E a verdade é que partilhar o mesmo prato em uma refeição é mesmo algo para fazermos com os mais íntimos.

A intimidade não é algo natural. Há pais que não são íntimos de seus filhos, e cônjuges que até fazem sexo regularmente, mas não são íntimos. Intimidade é a capacidade de se abrir quanto aos sentimentos e pensamentos mais obscuros, de partilhar nosso interior, de baixar as defesas da alma, de conversar sobre tudo, de abrir o íntimo do nosso ser.

Precisamos desenvolver intimidade com pais, irmãos, filhos e, mui especialmente, com nosso cônjuge. Os casais precisam ser leais, viverem sem segredos, partilhando não só o leito conjugal, o cotidiano da casa ou os filhos, mas os sonhos e projetos, as frustrações e conquistas, os erros e acertos, as derrotas e os sucessos, os bons e difíceis sentimentos e desejos com os quais convivemos.

Assim sendo, comer de colher com Jesus, portanto, explicita a intimidade que, acima de tudo e todos, precisamos ter com Ele. Jesus buscou esta intimidade com seus discípulos, conhecendo-os de perto, partilhando da mesma refeição, e expondo a verdade de forma precisa e clara. E como discípulos de Jesus, precisamos fazer o mesmo. A Bíblia afirma: Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! (Tiago 4.8); Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrarpara apresentar-me a Deus? (Salmo 42.1,2); Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te busco intensamente; a minha alma tem sede de ti! Todo o meu ser anseia por ti, numa terra seca, exausta e sem água. Quero contemplar-te no santuário e avistar o teu poder e a tua glória. O teu amor é melhor do que a vida! Por isso os meus lábios te exaltarão. Enquanto eu viver te bendirei, e em teu nome levantarei as minhas mãos. A minha alma ficará satisfeita como quando tem rico banquete; com lábios jubilosos a minha boca te louvará. Quando me deito, lembro-me de ti; penso em ti durante as vigílias da noite. Porque és a minha ajuda, canto de alegria à sombra das tuas asas. A minha alma apega-se a ti; a tua mão direita me sustém. (Salmo 63.1-8).

Abra-se com Deus quando orar ou louvá-lo. Deixe que Ele seja a sua canção e seu amigo mais íntimo para conversar profundamente sobre tudo o que preocupa você.

Ame a presença de Deus.

Busque intensamente a companhia do Senhor.

Coma de colher com Jesus de Nazaré!

elaine

Elaine Cruz 

*A CPAD não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos publicados nesta seção, por serem de inteira responsabilidade de sua(s) autora(s).

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