Estamos vivendo em um mundo bastante complexo. De um lado assistimos grande parte da sociedade correndo atrás de visibilidade. Empresários desejam ver sua marca espalhada pelas redes sociais, profissionais liberais desejam ser cada vez mais acessados e conhecidos, e igrejas de diferentes tamanhos estão preocupadas com a visibilidade de seus cultos.
No âmbito pessoal, há muitos desejando ser celebridades midiáticas ou influenciadores. As pessoas desejam obter mais seguidores, e muitos estão ganhando dinheiro por conta da abrangência do que postam nas redes sociais. As pessoas desejam ser vistas - quem não é visto, acreditam, não é lembrado!
No outro extremo, cresce assustadoramente o número de pessoas que estão optando por não serem vistas, nem mesmo pela própria família com que convivem. A questão é tão séria, que na década de 1990, um psicólogo japonês Tamaki Saito, no seu livro "Isolamento social: uma adolescência sem fim", elaborou um termo para esta conduta: Hikikomori.
Este fenômeno enquadra pessoas, no mundo todo, que não saem dos seus quartos, ou que vivem um fenômeno de isolamento social extremo, caracterizado pela reclusão prolongada (mais de seis meses) em casa, evitando o trabalho, a escola, a igreja e o contato com outras pessoas. É uma síndrome muito observada a partir da adolescência, especialmente entre jovens na casa dos 20 anos, mas também atinge idosos em todo o mundo.
Do ponto de vista sócio cultural, há sobre os jovens muita expectativa de competência, gerando um ambiente propício a sentimentos de inadequação e vontade de se esconder. Além disso, a tecnologia, como a internet e os videojogos, é tão viciante, que qualquer outra atividade, como estudar ou trabalhar, se torna desinteressante.
Há vários fatores que provocam o Hikikomori. Muitas vezes as pessoas já desenvolveram um quadro psíquico complexo, e até mesmo perturbações do espectro do autismo. Contudo, para a grande maioria, pais muito permissíveis, que impedem que seus filhos cresçam e assumam a maturidade emocional necessária para a vida adulta, facilitam o aprofundamento do quadro de isolamento social. É mais fácil ficar trancado no quarto, sob os cuidados paternos, do que encarar os desafios do mercado de trabalho. A casa é segura, e outras pessoas, como chefes e supervisores, não incomodam com cobranças indesejadas. Mesmo os poucos que desenvolvem a síndrome e trabalham à distância, e que passam meses sem sair de suas casas, não se conformam quando são cobrados por seus superiores.
Infelizmente, a inércia no processo social, a evitação do contato social e a recusa ao mundo exterior cobram um preço alto, pois Deus nos criou para sermos sociáveis. Assim sendo, com o tempo, o Hikikomori contribuiu para o aumento da ansiedade, o desenvolvimento da depressão e até mesmo apatia social.
Nos casos de famílias que frequentam igrejas evangélicas, ter um filho ou um cônjuge com Hikikomori complica a comunhão com o Corpo de Cristo. Nestes casos, é importante que líderes peçam ajuda de psicólogos e psiquiatras, que podem intervir profissionalmente, enquanto pastores e intercessores oram a atuam no cuidado e aconselhamento na área espiritual.
Se você é pai ou mãe, fique atento aos sintomas. E não se esqueça de que a casa onde seu filho mora é sua! Portanto, gerencie regras para o tempo do uso do celular e até mesmo para a permanência no quarto. Estimule a comunhão entre irmãos, e promova atividades diárias em família, como refeições conjuntas ou cultos domésticos, por exemplo.
Precisamos olhar com mais cuidado para o desenvolvimento dos nossos familiares, e até mesmo dos jovens e adolescentes das nossas igrejas. Afinal, Deus fez tudo apropriado ao seu tempo. (Eclesiastes 3:11). Precisamos ser ensinados e estimulados a crescer, nas diversas áreas da vida, adquirindo competências psico-intelectuais que nos permitam deixar para trás as coisas da infância: “Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino.” ( 1Coríntios 13:11).
Elaine Cruz
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